As opiniões expressas neste texto não necessariamente refletem as opiniões do BArmys Acadêmicas.
Escrito por: Vitória Rapallo
Revisado por Cristiane Machado e Elinaete Sabóia
Miky Lee nasceu em Michigan (EUA) no dia 8 de abril de 1958. A mesma cresceu na Coreia do Sul na década de 60, foi uma das pessoas cuja família foi prejudicada pelo pós-guerra e a separação das Coreias. Logo, tudo o que o país detinha era importado e muito escasso. Os coreanos daquela época viviam consumindo produtos e conteúdo cultural norte-americano, o que levou a futura produtora a enxergar a indústria cinematográfica hollywoodiana como seu objetivo.
À vista disso, Lee, tem um currículo acadêmico extenso: a produtora e vice-diretora estudou diversos idiomas e linguística nas melhores universidades da Coreia, Taiwan e Japão, além de ter feito o mestrado em Estudos Asiáticos na renomada Harvard. A magnata também é multilíngue, ou seja, é fluente em 4 línguas como: coreano, inglês, mandarim e japonês.
Miky Lee, é neta de Lee Byung-chull, também conhecido como o fundador da Samsung, cujo seu império de entretenimento é avaliado em US $1,4 trilhões. A magnata está ligada a grande parte da produção cultural do país, desde programas de TV até mesmo concertos de grupos de K-pop ao redor do mundo.
É certo destacar que a décadas atrás, Lee foi criadora da primeira rede de cinemas multiplex de seu país, o que foi fundamental para que os conterrâneos dela assim adquirissem o gosto pela sétima arte, que por sinal, sem sua influência na produção de “Parasita” o filme de Bong Joon-ho dificilmente teria chegado aonde chegou:
“A vice-presidente Lee é uma grande fã de cinema, TV
e música. Ela é uma verdadeira cinéfila e conseguiu
trazer essa paixão fanática para o mundo dos
negócios”, diz Bong ao “The Hollywood Reporter”.
“Eu amo tudo nele,” disse. “O seu cabelo louco, a
maneira como ele fala, como ele anda e,
especialmente, como ele dirige filmes.”
– Discurso do Oscar.
Ao lado de seu irmão, Lee atualmente é vice-presidente do Grupo CJ fundado em 1953 por seu avô Lee Byung-chul.. Na época, a empresa fabricava produtos naturais como açúcar e farinha, tudo isso fazia parte da companhia de exportação, Samsung. Nos 40 anos seguintes, eles foram expandindo seu catálogo de produtos assim como seu território e passaram a trabalhar com bebidas, biotecnologia, farmácia e tecnologia. O patriarca da família faleceu em 1987. Agora o conglomerado é administrado e passado para sua geração e dividido entre seus herdeiros legítimos.
Dito isso, o conglomerado teve sua primeira oportunidade de ingressar no mercado do entretenimento em 1994, quando chegou aos ouvidos e mãos de Miky, uma proposta ousada, visionária e inédita. Essa proposta foi feita pelos ilustres Steven Spielberg, David Geffen e Jeffrey Katzenberg que na época estavam construindo um estúdio. E questionaram o interesse da Samsung.
A proposta em questão foi firmemente recusada pelo presidente do Grupo Samsung, também conhecido como tio da produtora, Lee Kun-hee. O responsável pelas decisões tomadas em nome da companhia estava de olho na movimentação em toda movimentação do mercado, como a Sony, que na época era outro nome asiático de peso no mercado industrial, comprando a Columbia Pictures, mas preferiu continuar produzindo somente eletrônicos. Porém, Lee foi a frente, pegou o projeto e levou à seu irmão, e fechou como uma das produtoras chefes e assim surgiu a DreamWorks.
Com isso, atualmente seu império midiático detém tentáculos em várias áreas do entretenimento equivalentes a US $4,1 bilhões (R $17,7 bilhões). Isto é, serviu de fundação para a atual potência da cultura Sul- Coreana, desde os k-dramas, até as milhões de visualizações mundiais do k-pop, com artistas que enchem arenas ao redor do globo, até filmes que dominam as bilheterias asiáticas e, se tudo continuar indo de vento em popa, por todo o ocidente também.
“Eu costumava carregar DVDs e levá-los à Warner, Universal, Fox, qualquer estúdio com quem tivesse a chance de apresentar filmes coreanos. Ninguém achava que nossos filmes eram bons o suficiente para fazer sucesso nos Estados Unidos […] A partir de então, não precisava mais ter que ficar me justificando para os executivos desses grandes estúdios”, explicou.”
– Miky Lee – The Hollywood Reporter.
Inclusive, como dito acima, Lee é um dos nomes por trás do sucesso do K-Pop no resto do mundo, a CJ E&M, por sua vez, fez uma parceria em 2019 com a Big Hit Entertainment 2019, esta é representante de artistas como o BTS (que conseguiu expandir no mercado por influência de Lee no exterior) e Tomorrow X Together, para criar a Belift Lab. Um dos primeiros projetos é o lançamento de uma nova boyband e outros grupos de gravadoras.
A Miky’s CJ E&M possui também uma empresa voltada à música denominada Mnet.A empresa de entretenimento de Miky também tem uma escola de música, M Academy, que treina a próxima geração de ídolos do K-pop. Em 2019, a mesma anunciou que estaria “começando do zero” com a Sandfactory, outra famosa escola que forma seus alunos em Idols.
Contudo, o trabalho de Miky criou uma boa infraestrutura para as indústrias de entretenimento da Coreia do Sul como um todo, e assim fornecendo uma base para os artistas locais se desenvolverem e ganharem o mundo. É fácil, por exemplo, traçar uma linha direta entre o investimento da CJ na indústria cinematográfica local e a ascensão de cineastas como Bong. Lee demonstrou ser uma mulher à frente de seu tempo, colocando-se como uma visionária, isto é, a paixão que detinha pelo cinema e pela cultura asiática fez com que a mesma investisse para que as produções músicas e cinematográficas virassem um mercado tão lucrativo quanto o norte-americano.
“Nossa geração, até mesmo antes da geração de Bong
Joon-ho, nós chamamos de Crianças de Hollywood,
porque sempre nos alimentavam com esse conteúdo,”
ela diz. “Eu sentia como se a
América tivesse a liberdade e uma vasta criatividade.”
– Entrevista para o The Hollywood Reporter.
Por fim, a influência da magnata em questão vai além das empresas de entretenimento. Ela consegue passear entre o social, político e econômico. Por muitas vezes, sequer conseguiu esconder seus envolvimentos, e por sua influência elegeu a última presidenta mulher da Coreia do Sul, que foi obrigada a deixar o cargo após o escândalo de corrupção. Porém, mesmo com fatos apresentados pela mídia local que tentam ultrajar sua virtude, é inegável o reconhecimento de seus feitos e contribuição para o país e a cultura midiática de forma universal. A marca que Miky Lee deixa na história do cinema é indefinível e ao mesmo tempo definidora.